Um Pouco Sobre a História de Mairinque
Sumário
Informação
Estaremos republicando, nesta página, algumas matérias que contam um pouco sobre a história de nossa cidade.
Estes pequenos relatos serão contados por Luiz Laerte Fontes, jornalista voluntário da AMPF e por Carlos Alberto Prado Perez, diretor financeiro desta entidade.
Caro leitor, esta página será atualizada periodicamente para que possamos informar, e deixar registrado nossa história e você também pode participar nos enviando textos com pesquisa histórica.
Origem e primeiros passos de Mairinque
A partir desta edição, a AMPF publicará neste jornal aspectos relevantes da história de nossa cidade. A fonte principal das informações – mas não a única – é Rafaela Rogato Rondon Silva, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Artes e Comunicação pela Unesp. Rafaela pesquisou exaustivamente aspectos ligados a Mairinque para trabalhos acadêmicos, e o último desses trabalhos – “Bens ferroviários de Mairinque: análise da articulação do conjunto industrial urbano e sua preservação” – foi a dissertação para obtenção de seu Mestrado. Trata-se de um levantamento bem montado e bem redigido, com mais de 400 páginas, disponível na Internet.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
A chegada do trem
A Revolução Industrial começou na Europa, de forma mais marcante na Inglaterra, na segunda metade do século XVII. Uma de suas principais características foi a substituição do trabalho artesanal pelo trabalho utilizando máquinas. A produção de bens aumentou muito e isso exigiu novas formas de transporte por via terrestre para permitir a distribuição de mais produtos, de forma rápida. Para atender a essa necessidade, já no início dos anos 1800 ocorreram o aprimoramento das locomotivas a vapor e a criação de estradas de ferro, que logo se espalharam pelo mundo – também para o transporte de passageiros. No Brasil, a primeira linha férrea foi inaugurada em abril de 1854, no Rio de Janeiro. Já a primeira estrada de ferro exclusivamente paulista surgiu em 1867: era a São Paulo Railway Company (SPR), que ligava Santos a Jundiaí, passando por São Paulo, importante por permitir levar ao porto de Santos produtos para exportação, café principalmente, e trazer os que eram importados.
Os benefícios das estradas de ferro eram tão evidentes, que logo surgiram interessados em novas construções. Em Itu, políticos e produtores agrícolas se juntaram para buscar financiamento para a ligação entre a cidade e Jundiaí. Ao saber disso, um grupo de sorocabanos propôs que a nova estrada, depois de Itu, continuasse até Sorocaba. Mas não houve acordo e a Companhia Ituana de Estrada de Ferro, inaugurada em 1873, manteve sua proposta: ligar Jundiaí a Itu.
Sorocaba era grande produtora de algodão, contava também com usinas beneficiadoras e insipiente indústria têxtil e queria fazer esses produtos chegarem a Santos de forma mais econômica para, de lá, seguirem para o exterior. O transporte, até então, era feito em lombo de muares, organizados em tropas, o que era muito caro e demorado. Sem poder se beneficiar da Ituana, cresceu em Sorocaba o desejo de construir uma estrada de ferro na cidade. Além do interesse dos produtores e empresários ligados ao algodão, o próprio governo de São Paulo apoiava a ideia, já que a Imperial Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em Iperó, bem próxima a Sorocaba, também poderia utilizar a nova estrada de ferro. Assim, a Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro, de papel determinante na história de Mairinque, é formalmente constituída em julho de 1871 e Luiz Matheus Maylasky, representante da industrial têxtil, é eleito seu presidente. As obras da estrada tiveram início em 1872 e a primeira viagem, de São Paulo a Sorocaba, aconteceu em 10 de julho de 1875. No ano seguinte a estrada já chegava a Ipanema.”
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
A vida da Sorocabana
A linha da Sorocabana foi inaugurada com muita festa em 1875. Mas, principalmente, os altos gastos durante a construção levam a forte endividamento da empresa. A administração do primeiro presidente, Luiz Matheus Maylasky, é contestada e em 1879 os acionistas formam uma comissão para investigar seus atos. Ele acaba afastado da presidência em maio de 1880 e três meses depois assume em seu lugar o conselheiro Francisco de Paula Mayrink.
No período de Mayrink na presidência, a Sorocabana passa dos primeiros 162 km de trilhos para 636 km em 11 anos, encampa a Companhia Ituana de Estradas de Ferro (o que permitiu a construção do trecho de Itu a Mairinque), compra a Fazenda Canguera, com 264 alqueires, espaço que hoje faz parte de Mairinque, e obtém a concessão para a construção de um ramal para o litoral – futura Mairinque-Santos. É também em sua gestão que acontece a inauguração da Vila Mayrink, origem da nossa cidade. A contrapartida de todas essas iniciativas foi o aumento das dívidas da Sorocabana e, novamente, a empresa entra em crise. Francisco de Paula Mayrink afasta-se da presidência em 1893.
Por: Carlinhos Perez
Diversas gestões da EFS - estrada de Ferro Sorocabana
Hoje falaremos um pouco sobre as diversas gestões da EFS – Estrada de Ferro Sorocabana, desde sua fundação em 1875.
Neste prólogo da matéria, queremos apenas fazer um destaque para o papel que Matheus Maylasky, teve nesta história.
Maylasky foi um austro-húngaro que veio para o Brasil em 1865, desembarcando no porto de Santos subiu a serra, até a capital paulista e lá, soube que havia uma cidade em forte desenvolvimento no interior do estado, portanto com enormes oportunidades de trabalho e crescimento para pessoas determinadas. Esta cidade era Sorocaba.
Nesta época, Sorocaba tinha sua economia calcada na produção e comércio do algodão e também era muito conhecida pelas suas Férias de Muares (cruzamento de Jumento com Égua). O centro comercial da cidade era dominado por lojas de selarias, couro, oficinas de carroças, troles e ferrarias.
Maylasky ficou perambulando vários dias procurando trabalho pelas ruas do centro de Sorocaba. Porém, naquela época, Sorocaba era uma cidade provinciana e conservadora e que não recebia bem à forasteiros e imigrantes que não fossem devidamente apresentados por famílias da sociedade. Após muito circular pelas ruas do centro, Maylasky foi bater à porta do Mosteiro São Bento onde foi bem recebido pelos freis beneditinos que lhe deram comida e abrigo e, que com o tempo, perceberam que o inusitado hóspede possui uma boa cultura além de conhecer vários idiomas, entre eles o latim. Foi através do Frei Baraúna que Maylasky conheceu Roberto Dias Batista, um importante comerciante de algodão, o qual estava com um descaroçador de algodão quebrado a vários dias e de difícil reparo. Então, Maylasky se ofereceu para fazer os reparos e ficou vários dias trabalhando nesta máquina, até que um dia, todos que passavam pelas ruas do centro, ouviram um forte barulho de engrenagens vindo do galpão do comerciante Roberto Dias. Era o descaroçador de algodão, funcionando a “todo vapor”.
Agradecido, Roberto Dias contrata Maylasky para ser gerente de máquinas de sua empresa, abrindo-se assim, as portas da cidade de Sorocaba àquele estrangeiro “misterioso” e de poucas palavras.
Em pouco tempo, Matheus Maylasky se vê inserido na sociedade sorocabana, começa a escrever matérias sobre a cultura do algodão, no jornal local “O Araçoiaba”, funda um Clube de Leitura e acaba se casando com uma sorocabana de família influente na cidade, consolidando assim seu prestígio na região.
Em 1870, empresários de Sorocaba formam uma comissão para discutir a construção de uma ferrovia que ligaria Sorocaba à Itu e essa cidade à Jundiaí. Entretanto, os ituanos recusaram tal acordo. Maylasky, que presidia essa comissão, diante da negativa dos ituanos, pede a palavra e diz:
“Diante desta recusa e pelo modo grosseiro e pouco caso que nos trataram, convido os componentes da Comissão de Sorocaba a nos retirarmos desta reunião, mas deixo um aviso: construiremos nós mesmos a nossa ferrovia”.
E assim nasceu a Estrada de Ferro Sorocabana.
Por: Carlinhos Perez
Controle com o Governo
Em 1901 é eleito presidente Francisco Casemiro de Almeida da Costa. Ele ordena a transferência das oficinas de Sorocaba para a estação de Mairinque, o que trouxe melhorias em nossa região. No entanto, a Sorocabana estava em estado de insolvência e o poder público assumiu o controle da ferrovia de 1902 a 1907.
Entre janeiro de 1903 e junho de 1907, o presidente da companhia foi o engenheiro Alfredo Eugênio de Almeida Maia. Ele desempenhou um papel importante para o desenvolvimento da Vila Mayrink: definiu melhor a ação das oficinas, para resolver problemas ligados à manutenção das locomotivas, viabilizou o surgimento da nova estação, inaugurada em 1906 com um arrojado projeto do arquiteto Victor Dubugras, incentivou os serviços de saneamento da vila.
Em 1907 a Sorocabana é arrendada a um consórcio franco-americano, mas em 1919 retorna à administração direta do Estado, com o nome de Estrada de Ferro Sorocabana. Por volta de 1930, as principais máquinas e a maior parte dos funcionários das oficinas da companhia são transferidos de Mairinque para Sorocaba, o que provoca a decadência da vila, a queda de habitantes e a diminuição das atividades socioeconômicas e culturais.
Em 1937 acontece a inauguração da linha Mairinque-Santos e em 1971 a Estrada de Ferro Sorocabana deixa de existir com a criação da Fepasa (Ferrovia Paulista Sociedade Anônima), formada pela Sorocabana e outras quatro estradas de ferro: Paulista, Mogiana, São Paulo-Minas e Araraquara. Com isso, as linhas férreas recebem investimentos e a unidade de Mairinque volta a ser utilizada mais intensamente.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Quis o destino
Como mencionamos acima, a Estrada de Ferro Sorocabana surgiu após uma recusa de Itu em apoiar a extensão da linha Itu a Jundiaí até a cidade de Sorocaba. Isso ocorreu em 1870 em uma reunião entre os grandes empresários das duas cidades, Sorocaba e Itu, na qual Matheus Maylasky, então anunciou que os sorocabanos então construiriam a própria ferrovia. Em 1875 a EFS era inaugurada, chegando até São Paulo.
Se naquela ocasião, não houve acordo para uma parceria, “quis o destino” que essa fusão ocorresse em 1892, já na gestão de Francisco de Paula Mayrink, quando a Estrada de Ferro Sorocabana comprou a Ituana e começa assim, a realização do Conselheiro em fazer desta terra, na época Fazenda Canguera, um importante entroncamento ferroviário.
A construção da linha Mayrink à Itu, em seu trajeto, passa por uma região que compreende a então Fazenda de Dona Catarina, onde nasceu o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Moraes.
Por: Carlinhos Perez
A ligação entre Itu e Mairinque
A Companhia Ituana de Estradas de Ferro, ligando inicialmente Itu a Jundiaí, foi inaugurada em abril de 1873. Já a Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro começou a funcionar em julho de 1875 ligando Sorocaba a São Paulo. Logo após as inaugurações, as duas construíram linhas férreas para várias outras cidades. Mas, pela proximidade de suas áreas de atuação, concorriam entre si, principalmente pelo transporte de produtos agrícolas destinados à exportação. Com o conselheiro Francisco de Paula Mayrink na presidência, a Sorocabana comprou a Ituana em 1892, criando a Companhia União Sorocabana e Ituana. Com a fusão, a nova companhia passa a contar com 905 km de linhas – 422 da Sorocabana e 261 da Ituana – e continuará crescendo.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Para o Litoral
Um pouco antes, o Conselheiro havia obtido a concessão imperial para construir um ramal férreo até Santos. No futuro, portanto, a Sorocabana teria caminhos para os quatro pontos cardeais: Norte (na direção de Itu e Campinas), Sul (sentido Santos), Leste (para São Paulo) e Oeste (Sorocaba e várias outras cidades). O entroncamento, ou seja, o ponto de junção da linha norte-sul com a linha leste-oeste, de suma importância para a logística da companhia, foi escolhido em Mairinque, nas proximidades do quilômetro 70 da Sorocabana, dentro da fazenda Canguera. Daí a razão da compra dessa fazenda: ela abrigaria uma estação, pátios de manobras, oficinas e tudo o mais necessário para o bom funcionamento de um local estratégico como esse.
O trecho para Santos ainda demorará para ser construído. Mas o trecho Itu a Mairinque, com 52 km, foi inaugurado em julho de 1897. Nessa ocasião também foram inauguradas duas estações, hoje utilizadas pela Prefeitura de Mairinque: Dona Catarina e Moreiras. O trecho Itu-Mairinque, em nossa cidade, é praticamente o mesmo ocupado atualmente pela estrada vicinal Mario Covas que liga a via Raposo Tavares à via Castelo Branco.
O transporte de passageiros por trem nesse trecho foi desativado em meados dos anos de 1970 e o de pequenas cargas permaneceu aberto até o final dos anos 1980. Em seguida os trilhos foram retirados.”
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Oficina Mecânicas de Trens
Como alguns sabem, em 1930 a EFS transferiu os trabalhos das Oficinas Mecânicas de Trens, que aqui funcionavam a todo vapor, para a cidade de Sorocaba. Foi um baque para a economia da Vila Mayrink. Entretanto, desde 1927, as obras de construção da ferrovia Mayrink à Santos já estavam em plena atividade e sua conclusão em 1937, deu renovada força a economia da Vila, tornando-a de grande importância para o setor transporte gerando novas atividades econômicas em nossa região.
Em 1937 foi concluída a linha Mayrink à Santos e finalmente a visão do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink foi concretizada, ampliando assim a importância da Estação na economia e desenvolvimento da Vila, com intenso fluxo de carga e passageiros.
O primeiro trem de passageiros que circulou entre Mayrink e Santos, foi em 02 dezembro de 1937 e o de carga em 12 de dezembro do mesmo ano.
Em julho de 1938, o presidente Getúlio Vargas e o Governador de SP fizeram a inauguração oficial da linha, acompanhados por uma enorme comitiva da diretoria da EFS e imprensa do país.
Por Carlinhos Perez
Mairinque vai a Santos
Uma das grandes conquistas do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink na presidência da Sorocabana (de 1880 a 1893) foi ter obtido a concessão para a companhia construir o trecho ferroviário Mairinque-Santos. No entanto, as obras só começaram no final dos anos 1920 e foram concluídas em 1937.
Crises políticas e econômicas atrapalharam a construção. São exemplos a insolvência da Sorocabana e consequente intervenção do governo na empresa em 1902, a Revolta Paulista de 1924, a Revolução de 1930 que depôs o presidente da república, a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Grande Depressão que teve início nos Estados Unidos em 1929 e se espalhou pelo mundo. Além disso, havia pressão da São Paulo Railway, chamada de “Inglesa”, contra a construção, já que era dela o monopólio da ligação férrea para Santos.
O grande mérito pelo início das obras é de Júlio Prestes de Albuquerque que, ao assumir o governo do Estado de São Paulo em 1926, e cumprindo promessa de campanha, fez com que a ligação entre Mairinque e Santos acontecesse. Mas as críticas não paravam. O jornal Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo) no dia 8 de fevereiro de 1928, em editorial, se posicionava contra a construção dizendo “…agora, com uma obra que vae custar 250.000 contos, o prolongamento de Mayrink a Santos, unanimemente condenado por todo mundo, o governo, num açodamento perverso, manda atacar a obra dos dois lados, tanto de Santos, como de Mayrink…”. Com o tempo, porém, a opinião tornou-se favorável à Mairinque-Santos.
A construção, de fato, foi executada em duas frentes. Segundo Antônio Soukef Junior, autor de “Reabilitação do Conjunto Ferroviário de Mayrink”, sua dissertação de Mestrado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, “o traçado de ligação com o litoral era complexo; por isso a obra foi dividida em 41 empreiteiros para 43 trechos distintos. Sendo o trabalho dividido em mais de 30 túneis, 18 viadutos e 100 muros de arrimo. No início da década de 1930, tinham sido executadas 366 obras, em 40 km de trilhos, a partir de Mairinque, e 6 km a partir de Santos. A Mairinque-Santos contou com a participação de mais de 13 mil operários”. Ele e outros autores creditam ao diretor da Sorocabana na época, engenheiro Gaspar Ricardo Júnior, destacada atuação para o sucesso da obra (este link mostra os túneis da ferrovia: bit.ly/2SxQYv6).
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Porto e praia
Em 1937, quando a obra foi terminada, a linha possuía 155 km de extensão. Nesse mesmo ano começaram o transporte de cargas e o de passageiros. Em relação ao transporte de carga, a ferrovia, além de acabar com o monopólio da SPR, tornou-se uma opção mais rápida e econômica para atender a necessidade de exportação pelo porto de Santos de produtos agrícolas – café principalmente – de produtores do interior de São Paulo e de outros estados.
A movimentação de trens em Mairinque era intensa e o distrito (ainda pertencente a São Roque) cresce politicamente, inclusive pela instalação de outras atividades econômicas.
Mairinque e sua estação de trem significam, também, a possibilidade de chegar ao litoral para quem mora no interior. Pode parecer uma emoção menor, mas naquele passado, Mairinque conseguia concretizar o imaginário das pessoas e deixar registrada a realização, para muitos, do maior sonho da vida: conhecer o mar.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Aniversário 27 de Outubro
É interessante destacarmos que, como todos sabem, Mairinque comemora seu aniversário em 27 de outubro, data em que foi fundada a Vila construída pela Estrada de Ferro Sorocabana para os funcionários da ferrovia, em 1890. Porém, Mairinque se tornou Município somente em 1959 após uma reunião, em dezembro de 1958, de uma Comissão Municipal que solicitou um plesbicito para aprovar tal emancipação.
Em 18 de fevereiro de 1959, Mairinque foi oficialmente levada à condição de Município, pela Lei Estadual no.5285, aprovada pela Assembleia Legislativa e promulgada pelo governador de SP, Jânio Quadros.
Durante o período de 1875 a 1896, nossa estação ferroviária recebeu diversos nomes:
“Estação Canguera” devido ao nome da Fazenda que aqui existia.
“Estação Entrocamento” pela localização geográfica estratégica da mesma para servir como ligação entre a capital, o interior do estado e o litoral paulista.
“Estação Manduzinho” em referência ao apelido que tinha um dos proprietários destas terras nos anos de 1870.
E, finalmente, “Estação Mayrink” em homenagem ao presidente da EFS e idealizador da Vila.
Por: Carlinhos Perez
O surgimento de Mairinque
Várias cidades – Mairinque é uma delas – foram implantadas à beira dos trilhos e moldadas pelas companhias ferroviárias. Na época da inauguração da linha da Sorocabana, em 1875, as composições paravam em seis estações: Sorocaba, Piragibu (atualmente região de Alumínio), São Roque, São João, Barueri e São Paulo(1). Para crescerem, as ferrovias expandiam suas linhas ou construíam paradas ou estações em locais em que a linha já existia.
Segundo João Barcellos, em “Entre o Sertão e a Ferrovia”, a Fazenda Canguera (Santuário dos Mortos, em linguagem indígena), um dos locais que a Sorocabana atravessava, localizava-se em São Roque e era conhecida por ser ponto de encontro de tropeiros que se dirigiam ao litoral de São Paulo. Nela, ainda no ano da inauguração da Sorocabana, a companhia ergueu “pequena e tosca estação, com pequena oficina de reparos de trens, coberta de zinco, e que só funcionava em casos de emergência; foi o núcleo da atual cidade de Mairinque”(2).
Em 1881(3) a Sorocabana comprou a Canguera – a escritura de venda é de 1893 (4). Ela tinha 264 alqueires (equivalentes a 6.388.800 metros quadrados) e a compra aconteceu quando o Conselheiro Francisco de Paula Mayrink era o presidente da Sorocabana (entre 1880 a 1893). Para ele, considerado um empreendedor de grande visão, o local era estratégico como futuro centro de ligação entre o interior de São Paulo e o porto de Santos.
Para as operações iniciais da companhia na área, a Sorocabana construiu uma vila com 100 casas iguais para seus funcionários, dois botequins, farmácia e uma pequena escola para os filhos dos funcionários, a primeira da região. A vila foi inaugurada em 27 de outubro de 1890, com o nome de Canguera e só dois anos mais tarde muda o nome para Mayrink, em homenagem ao seu idealizador(5).
É por isso que em 27 de outubro comemoramos a data de fundação de Mairinque.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Fontes: (1)SOUZA, JMD; (2)LESSA, FPM, citado por CAMARGO, JFZ; (3)Revista Nossa Estrada, citado por SILVA, RRR; (4)CAMARGO, JFZ; (5)Processo Condephaat e SOUKEF, AJ, citados por SILVA, RRR
Crescimento do Transporte Ferroviário
Como mencionamos, a Vila Mayrink foi inaugurada em 27 de outubro de 1890, após a Estrada de Ferro Sorocabana comprar a Fazenda Canguera, que aqui existia, para nela construir uma vila para os seus operários.
Com o crescimento do transporte ferroviário, a vila se desenvolveu e ganhou melhorias de infraestrutura urbana que eram apenas conhecidas e utilizadas em cidades mais modernas da Europa. Podemos considerar que Mairinque é a primeira cidade do Brasil planejada e construída com sistemas de agua encanada, afastamento e tratamento de esgoto (decantação) e iluminação de suas ruas por gás acetileno (proveniente do próprio sistema de tratamento do esgoto).
Um dos maiores responsáveis por estas obras estruturais da Vila Mayrink foi o engenheiro Henrique Scheveng. Podemos até dizer, sem receio de errar, que Scheveng foi um dos maiores benfeitores da Vila Mayrink. Graduado na França, trouxe esse pioneirismo urbano para nossa cidade e para o Brasil. Foi ele quem projetou e acompanhou a construção das casas, ruas e praças da recém-inaugurada vila de operários da Estrada de Ferro Sorocabana.
Onde hoje está a sede da AMPF, o prédio do antigo Armazém de Abastecimento de Ferroviários, foi criado na época, um belíssimo jardim, onde as pessoas iam passear com seus filhos e ocorriam diversas festividades (este jardim pode ser visto em uma foto histórica).
Foi por obra de Scheveng que se construiu a primeira escola de Mairinque, denominada Escola Reunida porque no mesmo prédio, estudavam tanto meninos como meninas, separados por um biombo móvel que ia do teto ao chão e de parede à parede da sala. Aos finais de semana, era nessa escola que ocorriam os bailinhos da época, momento em que os biombos eram afastados e colocados junto as paredes, para tornar o local um “verdadeiro salão de bailes”.
Em 22 de novembro de 1903, foi criada a Sociedade Operária Musical e Recreativa, e que hoje se chama Sociedade Recreativa Mayrink – SEM. Mas, essa é uma história para ser contada em uma próxima edição.
Por Carlinhos Perez
Mairinque ganha melhoramentos
A inauguração da Vila Mayrink em 1890 foi o primeiro passo para a Sorocabana atuar de forma mais ordenada e intensa na nossa região.
A área da Fazenda Canguera, comprada pela Sorocabana em 1881 e que hoje faz parte de Mairinque, estava destinada, prioritariamente, à construção de um parque ferroviário, com a Vila Mayrink incluída. O que não fosse necessário para as operações da companhia, seria loteado e vendido.
Já em 1897, no ano em que ficou pronta a ligação Mairinque-Itu, a Sorocabana construiu uma estação de madeira na Vila, com duas plataformas de 400 metros. Era para ser provisória, mas só foi desativada com a inauguração da Estação Mayrink, patrimônio histórico da cidade, em 1906.
No final do século 18, a Sorocabana ficou em estado pré-falimentar e em 1902 o governo precisou intervir para que os serviços não fossem interrompidos. De 1903 a 1907 presidiu a ferrovia o engenheiro Alfredo Eugênio de Almeida Maia. Graças aos recursos do poder público, o período foi notável para a Vila Mayrink.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Uma Vila modelo
Alfredo Maia e outros engenheiros que trabalharam com ele estudaram na Europa e trouxeram uma visão cultural e de cidadania que beneficiaram muito a Vila. Criou-se um projeto urbanístico que previa seis praças, ruas largas, boas condições higiênicas, facilidade de abastecimento de água, correto escoamento de esgoto. Tudo com um traçado arquitetônico ortogonal, ou seja, com quarteirões formados com ângulos retos. Entre 1903 e 1904 foram construídas casas para os funcionários da ferrovia que formaram três quarteirões – que ainda existem (uma de suas ruas é a Luiz Matheus Maylasky). Iluminação de acetileno atendia a esses quarteirões e a áreas onde se encontravam o alojamento para os funcionários solteiros e os estabelecimentos de apoio aos moradores (armazém, farmácia, escola etc.).
Todos esses investimentos se justificavam: a Sorocabana considerou que a região teria importante papel como entroncamento do tráfego ferroviário para São Paulo, Sorocaba, Itu e, futuramente, Santos. Por isso, foram transferidas as oficinas centrais da companhia para Vila, seções de fundição de ferro e bronze e vários outros setores de apoio.
Ainda sob a presidência de Alfredo Maia, foi escolhido o arrojado projeto do arquiteto Victor Dubugras para a nova estação.
Não é sem motivo que na frente da Estação Júlio Prestes, em São Paulo, existe um imponente monumento a Alfredo Maia. Essa homenagem também poderia ter sido feita para ele em Mairinque.
Por Luiz Laerte Fontes – jornalista voluntário
Nem só de “pão” vive o homem. Ele também precisa de “circo”
Além das melhorias da cidade, já citadas, a população da Vila Mayrink, no início de 1900 procurou cuidar das relações sociais e recreativas de seu povo. Para tanto, a área cultural e esportiva já recebia uma atenção especial por parte dos cidadãos que aqui viviam. No jardim, onde hoje está localizado a AMPF, antigo Armazém de Abastecimento dos Ferroviários, havia um coreto onde a banda da cidade se apresentava aos finais de semana e a Escola Reunidas, que havia na Rua Matheus Maylasky, também abrigava bailes e peças teatrais realizadas pelos primeiros artistas de nossa cidade.
Alfredo Ercolano Giuseppe Bertolini foi um dos precursores de nossa cultura e, podemos considera-lo, sem receio de errar, que ele é o maior expoente da área teatral de Mairinque. Em 1906 comandava a primeira companhia de teatro de nossa cidade, o Grupo Dramático de Mayrink e apresentavam a peça “Condessa de Marsay” em várias cidades da região.
Oportunamente, contaremos mais sobre a grande obra e a importância de Alfredo Ercolano Bertolini para a vida sociocultural de nossa cidade pois, foi no ano de sua chegada à Vila Mayrink, 1903, que foi fundado, em no dia 22 de novembro, o primeiro clube nesta cidade, a Sociedade Operária Musical e Recreativa Mayrink – S.O.M.R., que mais tarde (1937) viria se tornar a S.R.M. – Sociedade Recreativa Mayrink.
Foi na SRM que nasceu a primeira banda musical de Mairinque, a Corporação Musical e o Grupo Dramático de Mayrink. Em 1959, a SRM realiza um dos seus grandes sonhos e em 14 de novembro, inaugura sua nova sede à Praça Dom José Gaspar, com uma enorme sala de cinema, palco para teatro e dependências para demais atividades socioculturais. A SRM então doa sua antiga sede, localizada na Rua Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, ao Clube Atlético Sorocabana de Mairinque – CASM.
Por Carlinhos Perez
Apoio ao ferroviário
Uma das necessidades trazidas pela revolução industrial, iniciada na Europa no século 18, foi a de acomodar os operários em moradias com boas condições sanitárias e com oferta adequada de lazer, educação, transporte. Uma solução para isso foi a vila operária, lançada na Inglaterra e que logo se espalhou pelo mundo. A empresa fornecia habitação e vários serviços para permitir que os trabalhadores residissem em um local com boa qualidade de vida e próximo de onde atuavam. Para alguns estudiosos, essa situação criava no trabalhador uma dependência exagerada em relação ao empregador.
A Vila Mayrink tinha todas as características de uma vila operária e, lançada em 1890, era considerada uma nova ideologia no Brasil. Ao resolver tornar nossa região estratégica para as operações, a Sorocabana, que tinha vários de seus dirigentes formados em escolas europeias, cuidou de criar para seus empregados um povoado com casas simples, mas confortáveis, e que dispunham de serviços básicos – escola, armazém, farmácia, por exemplo – no terreno que a companhia havia adquirido – a Fazenda Canguera.
Era uma vila padronizada e disciplinada pela ferrovia que, muitas vezes, extrapolava os limites do trabalho influenciando na vida social dos moradores.
Do ponto de vista social e esportivo, a Sorocabana apoiou iniciativas que, adaptadas aos novos tempos, se mantêm até hoje. São exemplos atuais o SRM (Sociedade Recreativa Mairinque) e o CASM (Clube Atlético Sorocabana de Mairinque).
Sociedade Operária Musical e Recreativa – Fundada em 1903 com o apoio da Sorocabana, a Sociedade já nesse ano deu origem a uma Corporação Musical que animava a população nos domingos e feriados com apresentações no coreto de uma praça onde, posteriormente, foi construído um armazém de abastecimento. Ainda em 1903, a banda venceu um concurso no Jardim da Luz, em São Paulo. Em 1937, o nome foi alterado para Sociedade Recreativa de Mayrink (SRM). No início, a sede ficava na rua Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, mas foi transferida em 1959 para a Praça Dom José Gaspar, em prédio de dois andares construído pela Sorocabana. Em 2009, depois de reformá-lo, a prefeitura de Mairinque instalou nesse local o CEMEC (Centro Municipal de Educação e Cultura), mas é possível ver na fachada a sigla SRM.
Clube Atlético Mayrink – Existem referências a clubes de futebol, formados por funcionários da Sorocabana, desde a década de 1920. Mas a origem do CASM (Clube Atlético Sorocabana de Mairinque) está no Clube Atlético Mayrink, fundado em março de 1940, e que jogava no campo de futebol construído em área cedida pela ferrovia na rua Elias Sodré (curiosamente, neste link — https://bit.ly/33OXhiU — há referência à participação do “Clube Atlético Mairinque” no campeonato paulista da quarta divisão em 1932). Em 1957 os sócios aprovaram incorporar a palavra Sorocabana ao nome do clube para ter um vínculo maior com a ferrovia. Aos poucos o CASM se transformou em um grande clube desportivo, com quadras, piscinas e várias outras opções para esporte e recreação.
Por Luiz Laerte Fontes – jornalista voluntário
Transferência para Sorocaba
Uma das medidas que o governo adotou para reerguer a Sorocabana foi um programa de investimentos que, infelizmente para a Vila Mayrink, previa a construção de novas oficinas em Sorocaba. Em consequência, diminuiu o uso das instalações da vila, até que em 1930 houve a transferência das principais máquinas e da maior parte dos funcionários para Sorocaba. Isso provocou a decadência da vila, a queda no número de habitantes e a diminuição das atividades socioeconômicas e culturais. Com o passar do tempo, a vila encontrou novas formas de desenvolver sua economia, vinculadas a outras atividades.
Ainda na década de 1930 ocorreu a venda de lotes urbanos e rurais em terrenos que pertenciam à Sorocabana. Isso foi bom para São Roque, que pôde arrecadar mais impostos.
Aos poucos, atividades agrícolas – Mairinque foi famosa como produtora de pêssegos – e atividades industriais melhoraram a condição econômica da região. No início da década de 1950 a vila começa a sonhar com sua emancipação de São Roque, o que é alcançado em 31 de dezembro de 1958.
Por Luiz Laerte Fontes, jornalista-voluntário
Estação: orgulho da cidade
Desde sua construção, em 1906, até agora, o prédio da estação ferroviária de Mairinque é considerado uma obra excepcional. Atestam isso, como exemplos, matéria publicada na Revista Polytechnica, em 1908*, e uma dissertação para obtenção de título de mestrado, aprovada pela Unesp em 2017**. Separados por 109 anos, os dois trabalhos coincidem nos elogios ao prédio e podem ser encontrados na internet.
O grande mérito por tudo que valoriza a estação é do autor de seu projeto, o arquiteto Victor Dubugras. Nascido na França, formado em arquitetura na Argentina e radicado em São Paulo a partir de 1891, Dubugras foi responsável por várias obras arquitetônicas inovadoras e foi, também, professor nos cursos de engenharia e de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo.
Para a implantação do projeto, extremamente avançado para a época de sua concepção, Dubugras contou com o apoio do engenheiro Alfredo Maia, presidente da Sorocabana de 1903 a 1907 e que era elogiado por sua postura arrojada.
A estação tem sido objeto de inúmeros estudos envolvendo, principalmente, arquitetura e engenharia ferroviária e se você fizer no Google uma pesquisa, por exemplo – artigo: estação ferroviária de Mairinque – vai obter mais de 130 mil resultados. Entre os aspectos valorizados do prédio, considerando-se o momento de sua construção, destacam-se:
É tido com o projeto de arquitetura mais inovador desenvolvido por empresa ferroviária no Brasil e é considerado precursor da arquitetura moderna brasileira.
Tornou-se um dos mais importantes monumentos históricos ferroviários do Brasil.
É um dos mais antigos edifícios em todo o mundo a ser construído, com linguagem inovadora, em concreto armado.
Atribuiu-se ao prédio diversas qualidades: bom senso, simplicidade, originalidade e sobriedade da composição arquitetônica.
Possuía uma disposição prática, deixando ao imediato alcance dos passageiros os serviços essenciais. Por exemplo, bilhete, telégrafo e despacho.
Tinha, também, a particularidade de ser em “ilha” – o edifício central era cruzado lateralmente pelas duas linhas – e o acesso à estação era por meio de um túnel aberto no subterrâneo, que trazia segurança para se chegar às plataformas.
Por essas características – e muitas outras – a estação foi tombada a nível estadual (pelo Condephaat, em 1986) e a nível federal (pelo IPHAN, em 2004). O tombamento é um procedimento que preserva o bem e limita intervenções, permitindo apenas aquelas que servem para sua conservação e manutenção.
O prédio da estação ferroviária de Mairinque é um dos monumentos mais admirados pelos estudiosos de São Paulo e um orgulho para os mairinquenses, que precisam respeitá-lo e trabalhar para que seja sempre bem cuidado.
*Pujol Junior, “Uma Estação Modelo”, Revista Polytechnica, IV (22), 1908.
**Rafaela Rogato Rondon Silva, “Bens Ferroviários de Mairinque: Análise da Articulação do Conjunto Industrial Urbano e sua Preservação”, dissertação para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Artes e Comunicação, Unesp, 2017.
Por Luiz Laerte Fontes – jornalista voluntário
A estação Ferroviária Mayrink "A mãe de todos nós"
Mayrink surgiu em função da criação da Estrada de Ferro Sorocabana, fundada em 1875 por Matheus Mailasky, a qual no final do século XIX, em 1881, adquiri a Fazenda Canguera, com 264 alqueires, que pertenceu à Manoel Joaquim da Costa Nunes, o Manduzinho (em tupi guarani significa, “diabinho”), por ser uma área geográfica estratégica aos planos da ferrovia. Nesta época, o presidente da EFS era o Conselheiro Francisco de Paula Mayrink e pretendia criar nesta região um entroncamento férreo ligando o interior (Sorocaba e Itu e Campinas) à São Paulo e ao Litoral, mais precisamente, ao porto de Santos, quebrando assim o monopólio da inglesa São Paulo Railway no transporte de carga para exportação (café, açúcar e algodão).
Neste local foi construída uma estação acanhada feita de madeira, onde 10 anos depois seria construída a Estação Mayrink projetada pelo arquiteto francês, naturalizado na Argentina e radicado no Brasil, Professor da Politécnica São Paulo, Victor Dubugras.
Antes de receber o nome de Mayrink, a estação ferroviária, foi denominada como: Estação Canguera, Entroncamento, Manduzinho e finalmente Mayrink em homenagem ao Conselheiro Francisco de Paula Mayrink.
Algumas datas Históricas da Estação Mayrink
A estação foi inaugurada em 1906, ocasião em que a EFS já havia incorporado a Estrada de Ferro Ytuana e já fazia a ligação de Mayrink com Itu, passando pelo bairro, hoje denominado, Dona Catarina, onde nasceu o Presidente Prudente de Moraes, o primeiro presidente civil do Brasil.
A obra em si, era algo novo na arquitetura brasileira, diferente de todas as demais construções ferroviárias no país (estilo inglês) e que possuía linha simples e original e extremamente funcional, porém inovadora, onde foi utilizado pela primeira vez o conceito do concreto armado, sendo que, toda a parte estrutural, foi feita com trilhos refugados (não aproveitados para a construção das linhas férreas).
A Estação Mayrink também é a primeira estação construída no estilo “ilha”, isto é, com trafego ferroviário de ambos os lados e, para tanto foi construída uma passagem subterrânea (pontilhão) para que os pedestres pudessem acessar a estação com segurança e ligando os dois lados da cidade cortada pelos trilhos.
Victor Dubugras é considerado o percussor da Arte Moderna na América Latina e a estação é uma obra que representa a “Art Nouveau” na arquitetura brasileira.
Em 1937 foi concluída a linha Mayrink à Santos e finalmente a visão do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink foi concretizada, ampliando assim a importância da Estação na economia e desenvolvimento da Vila, com intenso fluxo de carga e passageiros.
O primeiro trem de passageiros que circulou entre Mayrink e Santos, foi em 02 dezembro de 1937 e o de carga em 12 de dezembro do mesmo ano.
Em julho de 1938, o presidente Getúlio Vargas e o Governador de SP fizeram a inauguração oficial da linha, acompanhados por uma enorme comitiva da diretoria da EFS e da imprensa do país.
Em janeiro de 1999, encerram-se as atividades de trens de passageiros em Mayrink.
Em 1986 foi realizado o Tombamento da Estação, como patrimônio arquitetônico, pelo CONDEPHAAT e em 1998 pelo IPHAN.
Em 2003, a União vende a Estação para a Prefeitura Municipal de Mairinque. Desde então, são vários os esforços locais para a manutenção da estação. E assim, em 2006 é fundada a Associação Mairinquense de Preservação Ferroviária – AMPF com objetivo de aglutinar e liderar esses esforços para preservar, não somente a Estação, como também todo o acervo ferroviário e o patrimônio material e imaterial histórico da formação da cidade de Mairinque.
Em 2014, através de ações da AMPF e da Prefeitura Municipal de Mairinque é instituído por Lei, o Museu Ferroviário de Mairinque, fisicamente localizado em uma das salas da Estação Mayrink. Este museu pode ser visitado durante os dias de semana em horário comercial e aos finais de semana, com agendamento prévio junto à diretoria da AMPF ou ao Departamento Municipal de Cultura de Mairinque.
No final de 2014 e início de 2015, por intermédio da AMPF e de um Projeto de Lei Parlamentar e com a aprovação e acompanhamento técnico do CONDEPHAAT, a Estação teve seu telhado original trocado, devido diversas infiltrações pluviais que ali ocorriam.
Em 2016, a AMPF cria o Programa de Educação Patrimonial inaugurando-o em um evento sócio cultural na Estação, denominado Caminhada Histórica de Mairinque, com a participação de autoridades públicas e da população mairinquense. Neste evento, contou-se a história da formação da Vila Mayrink com uma posterior caminhada pelas ruas históricas do centro, terminando no Horto Florestal com diversas apresentações de artistas locais.
O programa EPA – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL AMPF” tem como objetivo principal a conscientização da comunidade no resgate e preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico, material e imaterial, e vem proporcionar à jovens e crianças a oportunidade de aprendizado sobre a História da cidade de Mairinque e sua origem ferroviária, procurando assim fortalecer a cultura e o sentimento de pertencimento, civilidade e cidadania na população mairinquense, bem como auxiliar no desenvolvimento de valores socialmente importantes nas relações humanas (responsabilidade, respeito, disciplina e auto estima), fazendo-os compreenderem que eles, jovens e crianças, também são agentes produtores de História.
Hoje, a estação passa por um momento crítico, em busca de recursos financeiros para realizar o restauro completo de sua edificação, conforme Projeto Arquitetônico realizado pelo escritório de arquitetura Ayoub, fruto de um concurso público estadual promovido pelo CONDEPHAAT.
A atual diretoria da AMPF tem mantido diversos contatos com o CONDEPHAAT e com a arquiteta Helena Ayoub, visando a realização dessa importante e necessária restauração e, conta, para tal, com a ajuda de todos os “filhos de Mayrink”.
Afinal, que bom filho deixaria sua mãe assim, tão abandonada?
Por Carlinhos Perez